Conheça a relação Pedestre versus Motorista nos EUA
Vinicius Ribeiro Blog 1189 views 5 min. de leituraPedestre versus Motorista
Sempre acreditei que a relação pedestre versus motoristas era uma dificuldade brasileira. Ingenuidade minha. Acreditada também que a educação era a única forma de conscientizarmos os motoristas e os pedestres para respeitarem a sinalização e cuidarem do espaço público aonde eles se deslocam. Equivoco novamente meu.
Minha constatação se deve ao que li nos diversos artigos e notícias de jornais americanos nas últimas semanas em função da minha estada por lá. O que mais me chamou atenção foi uma entrevista realizada pelo jornal Downtown News de Miami, através do jornalista Raul Guerrero a Steven Herzberg, integrante do Comitê de Segurança de Tráfego e Pedestres da DNA.
A entrevista se deu em função de intervenções e ações do governo para tornar a cidade mais segura para os pedestres.
Durante a entrevista, afirmações como estas foram ditas: “Modificações simples de sinalização exigem múltiplas reuniões, e não com uma, mas com três burocracias...” ”... é que esse sinal de travessia de pedestres nunca muda; é sempre vermelho...as pessoas na rua todos os dias simplesmente ignoram.” “Atravessar esse cruzamento é um ato quase suicida. Quando os pedestres começam na calçada oposta, os motoristas aceleram”.
Mesmo sabendo da formação do cidadão no transito e do grau de respeito e ações aos pedestres nos centros urbanos americanos, estas ações não são suficientes para inibir com que comentários e constatações como as de cima não aconteçam. Na verdade, o que serve para lá, serve para cá, ao me referir ao comportamento das pessoas no trânsito nas cidades brasileiras.
Ao lado das constatações acima, estão os conflitos de espaços e de interesses nos espaços públicos. Já parou para perceber que a luta de classes do século passado virou lutas de espaços na cidade? Na mobilidade urbana isso aparece nitidamente no comportamento do pedestre e do motorista no trânsito.
SE 2nd Street and SE 3d Avenue. Photo, Niels Johansen
No meio desse conflito está o desafio do poder público. Exigido pelas demandas de mais espaço precisa priorizar, hierarquizar e resolver a demanda gerando menos oferta.
Isso mesmo, para resolver o problema de espaço crescente dos veículos motorizados precisa diminuir o espaço ofertado a eles e aumentar a segurança de travessia aos pedestres.
Minha conclusão é que não temos como educar pedestres e motoristas vivendo um modelo de cidade que prioriza atitudes, investimentos e facilidades para os deslocamentos motorizados e privados.
Em algum momento, na tua formação educacional você leu, escreveu e ouviu sobre a importância do respeito ao espaço público? Sinceramente ... não! Isso se deve por que a cidade do século XX e XXI foi a cidade que atendeu a demanda dos deslocamentos motorizados e que agora é exigida nesta demanda, dividi-la com os pedestres.
Independente onde você mora e a formação que teve, se sua cidade não mudar a forma de ocupação dos espaços públicos, ela não mudará a forma de convívio entre os pedestres e os motoristas.
Os problemas das cidades em si são os problemas que as pessoas têm, em função da estrutura física ao longo do tempo. São as pessoas que dão as cidades os seus atributos, serena, tranquila, segura, congestionada. A cidade em si não tem intencionalidades, quem tem é o ser humano, de acordo com seus interesses.